terça-feira, 30 de junho de 2015

EU, PALAVRA

No vazio. Cheio de nada. Nada além de abstrações profundas, daquelas que fazem a razão divagar por horas a fio questões sem respostas, como tempo, felicidade e realização. Me dei conta que só sei ser com palavra. Palavra escrita, traçada com geografia certa para transformar, representar e revelar o pensamento – seja ele sutil ou subliminar. 

Como palavra, pontuo de maneira reticente todo olhar que lanço diante do outro, da percepção que o outro constrói sobre minha interação com o mundo e as coisas do coração. Sempre repletas de delicadeza quando o assunto é amor, amizade, apreço, saudade, angústia e ansiedade. 

Ponto e vírgula; nasce uma sintaxe capaz de causar convulsão na alma, cansada de tanta espera, tanto porquê, tanta mania de buscar significado pra tudo que o corpo alcança com a mente, mas que desconhece com os dedos, tanto ranger de dentes ao perceber que nem tudo é como esperava, tanta pausa para refletir erros e ausências, tanto muro para frear a vontade (vista como insana) de amar quem o coração escolheu (há tempos – talvez já em outra vida). 

Diante da página branca desenho mil concordâncias para me esvaziar desse vazio, que só se perde quando se faz assim, com palavras soltas, quase sem sentido aos olhos seus. Aos meus, são antigas. Já que antes foram escritas aqui dentro...<3

Uma redenção que nasce de dentro para fora, de fora para dentro, num exercício de sobrevivência capaz de calar demônios e o pranto que desagua na cia de um bom vinho tinto e canções italianas que despertam “muiteza”, como diria o Chapeleiro Maluco. Depois de palavra, só sou abstração.