quinta-feira, 1 de agosto de 2013

MEUS HEROIS NÃO MORRERAM DE OVERDOSE

Pego emprestado um trecho de ‘Ideologia, canção de Cazuza, para colocar no papel as divagações que me distraíram hoje - no caminho de ida para o trabalho. Depois de abrir o ‘Menina Quebrada’ (Eliane Brum) e colocar ‘Quiet times’ (Dido) nos fones - eu mergulhei cada centímetro da minha introspecção em uma fantasia divertida de imaginar meu cotidiano diante de uma nova ótica. Uma em que eu tenho por perto pessoas que admiro à distância - dada sua importância, talento e fama. 

Diferente dos herois dos meus amigos, os meus não morreram de overdose. Todos, ou quase todos, estão vivos, vivinhos da silva. Vivos e intrépidos entre a realidade e a fantasia. Concretos na dimensão de seus dons, abstratos no contato, insanos no processo criativo de suas obras, delicados com suas palavras, canções, cenas e sorrisos – sempre tão redentores. 

Em questão de segundos, me vejo divagar e viajar para não muito longe dali, daquele banco de ônibus desconfortável e dolorido por rabiscos revoltados e declarações de amor escritas com um desleixo charmoso. Olho para o lado enquanto ergo a xícara de capuccino e avisto Eliane Brum se aproximar sorridente. 

Ela traz consigo vários livros à tira colo. Dentre eles, deu para ver de longe, um dos seus próprios livros, o ‘Uma Duas’. Acenei. Ela logo me viu e veio ao meu encontro com um abraço. Sentou-se ao meu lado e começamos dividir amenidades sobre a Itália, o idioma, que agora ela segue se dedicando e, também seus próximos projetos. Sabê-los sempre me deixa ansiosa – por emergir, por evoluir no brilho de suas percepções. 

Deixo-me ali conversado com a Eliane por horas a fio e levo outra parte de mim para encontrar outra heroína do meu fantástico mundo. Fecho os olhos, troco ‘No freedom’ (Dido) por ‘Con La musica Alla Radio’ (Laura Pausini). Sinto-me vendo, ouvindo e sendo parte de um espetáculo que espero há 20 anos para curtir. Logo essa fantasia real se tornará uma realidade fantástica. Laura realizará 2 shows no Brasil, em fevereiro de 2014, pela The Greatest Hits Tour, turnê que comemora os seus 20 anos de carreira. 

O ônibus dá um tranco estranho. Fujo por alguns instantes da minha fantasia e me preocupo com a hora. Olho para o relógio e ainda tenho tempo, tempo para mais uma viagem insana. Então, ali pela janela riscada com estilete, eu me transporto para uma sala de cinema vip. O filme? A vida de outra mulher com Juliette Binoche. Filme que conta a história de uma mulher que, um certo dia, esquece os últimos 15 anos de sua vida e ainda vive um amor que já terminou. 

Mais uma parada. Me atento, pois agora devo descer. Cheguei ao meu destino, ao meu trabalho. Onde fico até às 18h. Depois volto a viajar, fantasiar e levar meus outros eus para passearem como e onde sempre quis. E o melhor de tudo, na cia dos meus queridos herois e heroinas. A bagagem são os meus sonhos, planos e ideais. O transporte é a minha criatividade, que para minha surpresa, sempre me surpreende.