quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O FABULOSO APÊ DE AMÉLIE POULAIN


Você certamente assistiu ou já ouviu alguém falar de Amélie. Personagem amada por enxergar o mundo e as pessoas de maneira doce e bem particular, que também inspirou diversos universos. Dentre eles, o da moda, do design e de interiores – por unir simplicidade, charme e delicadeza com a presença marcante do vermelho, amarelo e verde. 

A história de ‘O fabuloso destino de Amélie Poulain’ se passa em Montmartre, bairro de Paris, onde Amélie vive e trabalha como garçonete de um pequeno café, o Dois Moinhos. Um lugar repleto de histórias interessantes. Mas seu apartamento é a maior referência do filme. 

O espaço é encantador, e cada cantinho revela traços de sua personalidade. O quarto vermelho é uma boa opção para quem não tem medo de cores vibrantes. Os quadrinhos com temas ‘fofos’ e a roupa de cama em amarelo e verde fazem contraste com o vermelho das paredes – tornando o ambiente mais romântico.

Apesar de o apê ser pequeno, Amélie encontrou um jeito criativo para cultivar uma hortinha em vasos.
Azulejos em amarelo e branco formam um xadrez no piso do banheiro, que conta ainda com peças delicadas, como a banheira e a cômoda.
A decoração, em geral, possui cores e conceitos intensos, mas o conjunto de contrastes deixam os espaços super aconchegantes. Inspire-se!

Texto composto para Benita Brasil: http://bit.ly/1eiOqr2

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A POESIA VORAZ DE BJÖRK


Engana-se quem pensa que a poesia habita apenas as páginas de livros, os corações apaixonados, o ciclo da vida ou a ordem natural dos fatos. Ela também está presente na música, que se revela em versos cifrados por dores sustenidas. Mas nem sempre são dores. Acredite! Há também o amor, a beleza, a cor, a intensidade, o passar do tempo, a força do vento, o movimento da terra, a geografia, a arte. Elementos que Björk mistura e personifica com delicadeza. 

A influente cantora, compositora e instrumentista islandesa – herdou dos pais o amor por sua terra natal e a personalidade intensa e ativista. Suas canções sempre vão além da fórmula: introdução, refrão e chorus. Rompem as fronteiras impostas pela rima, métrica e a rede semântica para que sua mensagem traduza mais que meias palavras. 

A vencedora do Prêmio Nobel da Música remete enigma, tensão e angústia. Mas essa é apenas a primeira impressão. Para abandonar os rótulos é preciso conhecê-la. E para isso, é necessário ouvir sua voz com a mente aberta para o novo. 

Em poucas palavras, ela faz diferente: arranjos, compassos e introduções – para que quem a ouve – sinta diferente. No vídeo Mutual Core, ela usa sinais poderosos da estrutura e mecânica da terra, como: terremotos, erupções, formação de cadeias de montanhas e continentes para falar da mutação das relações humanas – e transforma-os em som, arte e design.

Cenas de Mutual Core



Inspire-se!
Mutual Core: http://bit.ly/1jrZrWH 
ll is full of Love: http://bit.ly/1jrYzkP 
Army of me: http://bit.ly/1ctOyjL

Texto composto para Benita Brasil://bit.ly/1z46MZz

terça-feira, 16 de setembro de 2014

UM RIO CHAMADO TEMPO

Lanço-me no vazio altivo da página branca do Word para esvaziar-me um pouco. Mas antes, pego emprestado um título de Mia Couto para dar voz a esse reclame que reclama em mim, a vontade de irromper as fronteiras de meu ser para, enfim, ganhar outras tantas, além da minha geografia. Havia um bom tempo que não fazia isso: transformar-me em palavra escrita, assim sem pensar. Deixando apenas que a emoção exceda as curvas que a razão desenha para domar nossos passos, nossos desejos, e acima de tudo, nossos demônios.

Demorei-me. É verdade. Mas foi necessário. A alma clamava por calma para remendar-se, depois de tantos dias iguais. De um bem-querer tão grande e profundo que até Deus fez força para entender. De perder-me por um segundo e depois reencontrar-me em uma letra de música. De não reconhecer-me como palavra, como reflexo desnudo no olhar do outro, como conexão viva nessa capital com ares de babilônia. Muito menos, como parte da terra em que nasci. Percebia-me nômade. Intrusa assistia a tudo sem refletir o porquê dessa derradeira complacência. Não era protagonista, muito menos figurante. Fazia a vez de expectadora para entender o que o tempo pretendia comigo. Esperei. 

Procrastinei. Eu confesso. Levei 3 dias para terminar esse texto. Escrevia uma linha, refletia duas. Voltava com backspace, compunha outras tantas. Mas insistia. Não sabia/entendia/enxergava, ao certo, esse ‘esvaziar’, sem uma boa dose de melancolia. Preferia que fosse alegre e cheio de constatações. Mas nem elas apareceram para morar em mim. Teriam feito toda a diferença nessa temporada introspectiva, deixando-a mais curta e objetiva e se possível, sábia. Rsrsrs.

O tempo se mostrou senhor de todos os destinos, impulsionando meus dedos sob as teclas, mesmo que arrastasse os pensamentos e perdesse o foco, vez ou outra. Ele queria, porque queria, ver-me como palavra, com acento e sinapse. Quanto mais que eu tentava fugir dessa ideia, minhas mãos agarravam-se ao teclado, como se estivessem algemadas. Então percebi que a teimosia era um recado tatuado nas profundezas de minh’alma. Ela pedia mais que atenção. Pedia delicadeza para olhar para dentro e perceber o que me é evidente. Tempo, tempo, tempo...

quarta-feira, 4 de junho de 2014

A VIDA EM SACOLAS

10 sacolas. Era tudo que Antonio tinha. 10 sacolas plásticas, mas não como essas frágeis sacolas brancas que dão no supermercado. Eram fortes, pois levavam toda uma vida. Eram negras, como piche do asfalto que repelia a vida e os passos de Antonio. Eram inteiras, pois não podiam deixar vazar tudo que Antonio tinha por buracos, por rasgos flácidos. Viviam umas dentro das outras. As 10 frágeis sustentavam o peso de outras 10 que vinham por dentro conservando com nós trançados com o cuidado de quem teme, devaneia e carrega o medo da violência nas esquinas dos olhos.

Eram 10. De longe parecia que eram mais. Multiplicavam-se com os passos largos e as buzinas. Um amontoado de coisa alguma para os olhares alheios, mas para os seus era tudo o que tinha. Era também sua trincheira. Seu mundo. Do qual ele nem ousava levantar os olhos. Sabia que poderia enxergar seu reflexo no outro. Uma vez refletido, ele existiria e insistiria em tirar sua paz, sua simplicidade – naquela noite, fria e voraz.

Sacolas empoeiradas pela ação vento e do tempo. Mas pelo tempo que faz dentro de Antonio do que faz além de sua trincheira negra, no ponto de ônibus da Consolação com a Paulista. Eram 10 os dedos que as carregavam com um esforço desastrado, trocando os passos com chinelos surrados e maiores que seus pés. Arrastava-se ao tentar levar tudo que tinha. Mas tudo que tinha o empurrava com brutalidade para a sarjeta.

Plásticas eram as embalagens que envolviam e livravam Antônio da loucura que o torna um conceito feio e desconexo na cidade que não para, mas atropela. Negras, como a noite que o ignora, o faz invisível.

Livros, algumas peças de roupas, sabonetes e uma toalha. Era tudo que tinha dentro das sacolas. Dentro de si, levava um sorriso abstrato pela falta de alguns dentes, mas isso era o de menos, perto da sua humildade. As 10 sacolas não seriam suficientes para carregá-la. Mas o coração deu conta do recado e tratou de levar também sua bondade e generosidade para com os companheiros andantes, que sempre aliviam o peso de suas sacolas e oferecem uma quentinha para encher o vazio da fome.

10 sacolas plásticas e 1 Antonio. 1 equação errada na ordem natural da vida. 1 retrato profundo e delicado para quem pode/sabe enxergar essas sutilezas que fazem de essepê uma Babel cheia de linhas tênues.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Até quando?

Pergunto-me em vão, diversas vezes, todos os dias. Sei que é sem razão. Porque com ela jamais perderia meu tempo tentando entender os confins e as facetas alheias com questões tão simples como respeito, educação e bom senso. Valores, que penso, deveriam vir de berço e perdurarem por toda vida. Já que são como rotas singulares da geografia de nosso caminho – enquanto pessoas, enquanto pessoas – humanas.

Divago por instante com a ajuda da minha concentração, por vezes, chamada de autista, dada sua profundidade – que na verdade não passa de uma viagem estimulada por boa música. Um filme passa diante dos meus olhos. O gênero? Horror. Meu horror. Sim, por muito tempo ele me acompanhou, especialmente, quando eu sofria bullying. 

Um déjávu, eu penso. Não. Tudo está diferente. O mundo é outro, assim como as pessoas. O tema é melancólico, sim. Mas de fato gostaria que essa mudança tivesse sido para melhor. Não foi. Na semana passada eu estava no metrô quando um grupo de rolezeiros me transformaram em distração à base de chacota. É claro que ignorei, mas não deixei de me ofender. 

Dois dias depois, me emocionei ao ler Malala no ônibus. Isso foi motivo suficiente para que um casal que estava de pé diante de mim - disparasse um riso insano. Me pergunto: até quando? 

Até quando? Expor minha opinião – fundamentada em fatos e sentimentos será motivo de riso? Até quando as pessoas vão se dar o trabalho de cuidar da minha vida ao invés de focar em suas próprias imperfeições e problemas? A resposta eu sei de cor: nunca. Pois basta existir para ser alvo de fofoca, inveja, piadinhas infames e de energia negativa. Desde que se nasce é assim. E depois que se morre a história continua. Mas, de vez em quando, só de vez em quando, gosto de pensar que as pessoas têm jeito, que ‘o mundo é bão, Sebastião’. 

Uma visão romântica, para não dizer ingênua, que sempre me rendeu decepções – em todos os âmbitos. O jeito é me acostumar, abstrair e ‘ligar o foda-se’. É inútil se prender a pequenezas. Elas sempre vêm de gente de mente limitada. O mundo está cheio de gente assim. Mas também há espaço para os loucos, os puros e os românticos. Viva La Tua Vità.