sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Um pedido pra tudo

Cabeça vazia pede palavra
Mente ociosa pede ocupação
Dedos atrofiados desejam movimento
O coração vazio clama por amor
O corpo sozinho evoca carinho

A casa fechada pede luz,
Pede flor, pede cor, pede som

O dia cinza não pede, repele

O canto desesperado pede afinação
O grafite descascado chama uma nova demão
Os ponteiros apressados não pedem nada, além de pressa
O conto pede um ponto,

A melancolia não pede, dá,
A Saudade pede,
E como pede
Pede colo,
Pede afago, pede cheiro, pede beijo
Pede que a abrace

Tudo pede nada
Nada pede tudo
O todo ainda tá na dúvida,
Se pedir ou dar,
Se clamar ou chamar

Sente o vento,
A cor do tempo,
O Vão entre os dedos,
O tilintar dos medos,
A púrpura coragem,
E a alegria insana

Pede, pede, pede bis
Pede, pede, pede cais
Pede canto
Pede copo
Pede paz.


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ju para os íntimos

Meu nome é Juliana, mas me chamam de Ju. Prefiro que seja assim. Soa mais sincero, livre de cerimônias ou formalidades. As dispenso, sempre que posso. No tempo em que vivemos, elas viram um fardo. Um pacote flácido que é jogado sob a mesa com rancor. Um adicional que ganha o caráter fake – em todas as plataformas. Acredite! 

Ops! Agora que me dei conta que essa introdução ficou a cara do ‘Doce veneno de escorpião’. Brincadeiras à parte, o livro parece ser interessante – dizem. Não o li. Mas o assunto aqui é outro: meu nome e como - de fato - gosto de ser chamada por amigos, pessoas queridas, familiares e colegas de trabalho. 

Ju. Simples assim. E sem acento – pelo amor de Deus. Apesar de muitos duvidarem, monossílabo terminado em U não se acentua. Então, Ju não se acentua, não se atenua, não se aumenta, não se estica, não se prolonga. São apenas duas letrinhas. Pronunciáveis em qualquer língua, até mesmo na dos bebês. 

Aí vai uma dica: Na maioria das vezes - esse login diminuto dá acesso imediato ao mundo dos favoritos, onde as reações a pedidos de like, refações de Jobs ou mudanças de planos para o fim de semana são armazenadas com mais carinho e compreensão – que as demais. 

Em outras, ele ganha vida própria e se disfarça de pronome para deixar aquela bronca áspera com toque de veludo, a solicitação de help bem mais atrativa, a D.R mais próxima do fim – quando se deseja uma resolução, um abração. Deixa também cartões de boas festas mais leves, fato. Afinal, você economiza caracteres para o ‘Eu te amo’, ‘Tudo de Bom’ e ‘Feliz Aniversário’. 

Aos que insistem em usar Juliana – saibam – isso me provoca coceira e uma louca vontade de perguntar: Nunca disseram que ‘liana’ não é um complemento, mas quase um sobrenome? E que cabe – apenas - na boca de quem não tenho intimidade? Ou seja, com quem troco apenas oi e tchau, com quem o contato não vai além de um RT, de quem conheço uma única expressão – a de seu avatar. 

Por isso confesso – toda vez que um(a) amigo(a) me chama de Juliana – ao vivo, por sms ou DM, já sei que é um prelúdio para más notícias, uma bronca, uma mágoa, uma tomada de distância. Um ‘brochante’ quando vem da boca de um boy magia. Um ‘reclame’ ao ser pronunciado pelos meus pais – que sempre o usam para chamar minha atenção quando pareço mais magra que de costume. Um ‘decreto’ se vem das bambinas Laura e Rafa. Sei lá, elas têm 9 e 5 anos, mas quando dizem: "Ooo, Juliana, vem cá", fica estranho. Parece que me transformo em um pinguim que não consegue sair do lugar por tentar – sem sucesso – carregar a cerimônia nas costas. Mas o pobre não tem dedos, então a arrasta pela boca e a joga nos pés de quem a criou – desnecessariamente. 

Então peço – usem e abusem do Ju e suas variáveis: Jubs, Juba, Jujuba, etc. É fácil, prático, economiza sílabas e, o mais importante, me faz mais feliz.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pergunta que não quer calar

O que devemos fazer quando não podemos mais calar a voz que vem de dentro? Aquela velha voz que ressoa toda vez que somos abatidos pela angústia? Que ecoa quando somos intimidados pela doce realidade sempre preferimos cultivar esperança, apesar de todas as intempéries? Que afina em suspiros sustenidos ao levarmos uma surra da saudade e de suas irmãs, a nostalgia e a melancolia? 

É difícil saber ao certo o que fazer, o que sentir, o que pensar. Tudo que se enxerga é inércia. Uma imensidão inerte de palavras póstumas. Palavras que morreram por aborto, quando – por ignorância ou receio - as prendemos entre os dentes. Palavras que se mataram ao verem o abismo que as esperam. Adjetivos que se perderam pelo caminho ao serem ditos com falsidade. Pronomes que seguem desaparecidos depois que as gírias chegaram para simplificar a comunicação on-line e dar vida a quem vivia na mudez estática. 

Não existe um manual de instruções. Simplesmente fazemos aquilo que achamos ser o certo. Isso, quando ele surge com toda sua sabedoria e nos aconselha - com um sussurro - o próximo passo. Seja esquecer, perdoar, superar, perseverar ou vencer. Ele, o coração, sempre sabe o que fazer. Mesmo que a mente diga o contrário. Ela vive em conflito por sua racional abstração de ser a razão e não o sentimento. 

Mas antes surge a introspecção para velar o tom desse espetáculo interno, como se fosse um ensaio. E nessa passagem de som que - às vezes - leva dias, semanas, meses, anos - descobrimos o ritmo natural das coisas, pessoas, fatos e por que não, da vida. Da nossa vida, da vida alheia, do conjunto total dessa renascença que é o amanhã. 

Depois vem a dúvida: De que maneira podemos soltar essa voz? Com um monólogo sereno no espelho? Uma oração sincera antes de dormir? Um diálogo prático com o que/quem vem alimentando a angústia? Um briefing para si, para esquecer tudo e se colocar pronto(a) para outra, seja lá o que esteja por vir? 

Essa é a vida. É assim que funciona. É assim que nossa maturidade chega para dar boas-vindas para as próximas vozes loucas, estranhas, tímidas, sofridas ou não. Resta-nos torcer para que elas façam um show, sim. Mas de emoções positivas, de razões práticas, de impasses desafiadores, de adjetivos que nos arranquem sorrisos só de pensarmos em usá-los, de expressões que nos inflam – como o ‘Eu te amo’. E façamos desse festival introspectivo – um repertório eclético que nos permita crescer, sempre – acima de qualquer coisa. Afinal, o show não pode parar.

Chuva, Rain, Pioggia

Traga-me boas novas
Antes que eu comece a chover
De dentro para fora
Pingos salinizados de angústia

Não
Não quero tempestade
Apenas seu sopro
Melancólico e sustenido

Mas que antes
Os bons ventos
Tragam-me a paz.

[Ju Talala]