sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A MINHA PAZ

Às vésperas de completar 30 anos, me deparo com uma constatação simples, para não dizer banal. Não preciso de muito para ser/estar feliz. Basta apenas que eu esteja em paz. Um estado de espírito que em algumas situações foi uma ferramenta fundamental para que eu não desse um passo atrás - diante de tudo que havia conquistado - com muita teimosia, esforço e suor. 

Sinto-me velha, não nego. Considero esse momento um dilema e uma ótima oportunidade para repensar tudo à minha volta. Planos, hábitos, posturas, pessoas e palavras. Cada uma delas. Sinônimos, adjetivos, pronomes – e ofensas. Afinal, elas são uma categoria à parte que faz por merecer a introspecção, o cuidado e porque não, o alerta de perigo e a balança na minha cabeça. Pesam bem mais que as outras. Também doem mais. Às vezes, nunca param de doer. São do tipo que entram pelos ouvidos com a configuração de looping infinito. 

Estou pronta, eu penso. Mas paro, reflito e me pergunto: pra quê? Silencio. Sorrio e me respondo com palavras internas: pro que der e vier. Então a consciência assume o papel de grilo falante, assim como em ‘Pinóquio’. Fala em alto e bom som: você é a mesma menina que chegou aqui vislumbrada, a diferença que agora sabe onde mora a verdadeira delicadeza das coisas. 

Olho para o nada. Viajo por alguns segundos – reparando as imperfeições do teto branco. Penso na contagem regressiva para o Natal e em tudo que quero fazer com a família durante as férias. Volto, mas sigo degustando as palavras que a consciência me lançou com esmero. Concluo. Ela tem toda razão. 

Perco-me na geografia do meu caminho com alegria e ansiedade. Sei o que me espera. O que eu espero que esteja à minha espera daqui pra frente – inclusive as rugas que vão dando uma nova moldura para os meus olhos. Não quero perder nada. Cada detalhe, por menor que pareça aos olhos alheios, será importante hoje, amanhã e depois.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

MEUS HEROIS NÃO MORRERAM DE OVERDOSE

Pego emprestado um trecho de ‘Ideologia, canção de Cazuza, para colocar no papel as divagações que me distraíram hoje - no caminho de ida para o trabalho. Depois de abrir o ‘Menina Quebrada’ (Eliane Brum) e colocar ‘Quiet times’ (Dido) nos fones - eu mergulhei cada centímetro da minha introspecção em uma fantasia divertida de imaginar meu cotidiano diante de uma nova ótica. Uma em que eu tenho por perto pessoas que admiro à distância - dada sua importância, talento e fama. 

Diferente dos herois dos meus amigos, os meus não morreram de overdose. Todos, ou quase todos, estão vivos, vivinhos da silva. Vivos e intrépidos entre a realidade e a fantasia. Concretos na dimensão de seus dons, abstratos no contato, insanos no processo criativo de suas obras, delicados com suas palavras, canções, cenas e sorrisos – sempre tão redentores. 

Em questão de segundos, me vejo divagar e viajar para não muito longe dali, daquele banco de ônibus desconfortável e dolorido por rabiscos revoltados e declarações de amor escritas com um desleixo charmoso. Olho para o lado enquanto ergo a xícara de capuccino e avisto Eliane Brum se aproximar sorridente. 

Ela traz consigo vários livros à tira colo. Dentre eles, deu para ver de longe, um dos seus próprios livros, o ‘Uma Duas’. Acenei. Ela logo me viu e veio ao meu encontro com um abraço. Sentou-se ao meu lado e começamos dividir amenidades sobre a Itália, o idioma, que agora ela segue se dedicando e, também seus próximos projetos. Sabê-los sempre me deixa ansiosa – por emergir, por evoluir no brilho de suas percepções. 

Deixo-me ali conversado com a Eliane por horas a fio e levo outra parte de mim para encontrar outra heroína do meu fantástico mundo. Fecho os olhos, troco ‘No freedom’ (Dido) por ‘Con La musica Alla Radio’ (Laura Pausini). Sinto-me vendo, ouvindo e sendo parte de um espetáculo que espero há 20 anos para curtir. Logo essa fantasia real se tornará uma realidade fantástica. Laura realizará 2 shows no Brasil, em fevereiro de 2014, pela The Greatest Hits Tour, turnê que comemora os seus 20 anos de carreira. 

O ônibus dá um tranco estranho. Fujo por alguns instantes da minha fantasia e me preocupo com a hora. Olho para o relógio e ainda tenho tempo, tempo para mais uma viagem insana. Então, ali pela janela riscada com estilete, eu me transporto para uma sala de cinema vip. O filme? A vida de outra mulher com Juliette Binoche. Filme que conta a história de uma mulher que, um certo dia, esquece os últimos 15 anos de sua vida e ainda vive um amor que já terminou. 

Mais uma parada. Me atento, pois agora devo descer. Cheguei ao meu destino, ao meu trabalho. Onde fico até às 18h. Depois volto a viajar, fantasiar e levar meus outros eus para passearem como e onde sempre quis. E o melhor de tudo, na cia dos meus queridos herois e heroinas. A bagagem são os meus sonhos, planos e ideais. O transporte é a minha criatividade, que para minha surpresa, sempre me surpreende.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Como levar a vida leve?

Eu sempre tive essa dúvida. Mas de alguns anos pra cá ela ficou evidente. Virou um mantra, um disco furado em que a canção é a mesma, mas os refrões nunca se repetem dentro de mim. Mais uma dúvida, eu penso. Mais uma, reflito e sinto alívio. Mais uma, entre outras tantas sobre a arte e as dores de existir que guardo com esmero em minhas gavetas internas. 

E todo dia era sempre igual. Ela me acompanhava no começo do dia durante o caminho para o trabalho e em seu fim, ao voltar para casa – mergulhada na inércia dos meus fones e olhar introspectivo pela janela do ônibus. Mas, nunca achava respostas que fossem além do famoso ‘foda-se’ e do prático desapego. 

Um dia, inspirada pelas palavras da minha escritora favorita, decidi levar a dúvida para passear - por onde quer que eu fosse, e não somente na rotina corriqueira e apressada que se instala de segunda à sexta. Então, no domingo fui ao cinema com uma amiga. Nada cult, nada transformador. Um entretenimento, uma distração. Levei a dúvida. Ela veio, toda toda saltitante, mostrando que não tinha segredos para mim, bastava eu mudar o jeito de olha-la. 

Atendi seu pedido e enxerguei a simplicidade presente em cada gesto meu e em toda palavra que pulava sem medo da minha boca. Saiam livres, leves e soltas. Não havia preocupação nenhuma em medi-las, ou projetar o pensamento pra tentar prever a reação dos outros, no caso, a outra, a minha amiga. Então, parei para pensar: “É, com ela não dá para fazer esse exercício. Ela sempre desperta o que há de melhor em mim. Com ela, não preciso trancar palavrões ou aversões antes de sair de casa”. 

No caminho de volta, fiquei ali no metrô, me observando e então percebi. É assim que quero me sentir sempre. Leve. Talvez, algumas pessoas [sempre] terão o poder de potencializar essa sensação e outras de anular. Cabe a mim perceber e fugir quando ela, a leveza, estiver reprimida, e por isso, inibindo palavrões, ideias, aversões e expressões que podem soar como bobas ou infantis. 

Para minha surpresa...Ela sempre esteve comigo. Sempre esteve por todos os lados em que andei, nos gestos e palavras de muitas pessoas que convivem comigo – com carinho e respeito. No olhar de tantas outras que não conheço, mas que todos os dias têm seus olhares capturados por mim, por minha fome de descoberta, de respostas, de gente-gente. Eu só estava olhando para o lado errado. 

Agora ela não é mais dúvida, é resposta, é certeza, é um lema inscrito na geografia do meu caminho. Com ela, eu tratarei todos que me quiserem por perto. Por ela, reencontrei o equilíbrio quando tudo parecia insano e perdido. Para ela, eu acordo bem disposta, danço na frente do espelho, faço planos mil, aceito que sábado é uma ilusão, mas mesmo assim fico mais feliz nele que nos outros dias. Eu existo e procuro evoluir – ao passo que percebo e corrijo minhas imperfeições. 

Leveza. Até seu som é gostoso de dizer. Atravessa os dentes com sutileza e chega aos ouvidos com delicadeza. Leveza, leveza, agora tu és uma tatuagem interna. Com o tempo vou compreender a profundidade do seu traço. Tenha paciência. Tô aprendendo a viver.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Eu escrevo pra me esvaziar

Eu escrevo para me esvaziar de mim. Mas há tempos não faço essa limpeza em minhas gavetas internas. As mágoas, as decepções, os vazios, os silêncios e as reflexões já me tomaram por inteiro. Não há mais espaço para novas brigas, palavras mortas ou ofensas. E o que é a vida sem elas? Um grande nada. Um livro sem dor, mas também - sem aprendizado. 

Preciso desocupar cada canto para que eu possa lotá-las, novamente. E espero – que dessa vez – sejam APENAS experiências inéditas e únicas. Sinto certa frustração ao perceber que certas brigas se repetiram tanto que se tornaram clichês, assim como o perdão. Que algumas despedidas não deveriam doer tanto. Afinal, são as mesmas de ontem e de anteontem. Talvez seja o tempo agindo – silencioso e sereno - a cada girar dos ponteiros, apressados. 

Sinto-me esvaziar a cada palavra que coloco aqui, nesse desabafo sincero para quem – agora – doa parte do tempo para ver o que há em minhas gavetas. Já não há muita coisa. Estou pronta para outras convenções da vida, para quinas que me exigirão [muita] paciência, para rachaduras que não se consertarão, nem com todo meu esforço e esmero. Vale insistir? Não sei. Isso apenas os dias dirão. 

Fugi da redoma por acreditar que assim estava limitando o meu mundo, meu ‘crescer’. Estava certa. Se ainda estivesse lá, protegida e distante, eu me resguardaria de muitas dores de existir. Não levaria tantos nãos, não teria que lidar com indiferença. E...não evoluiria. Por isso - prefiro ficar aqui, do lado de fora. É aqui que aprendo a virar páginas, quando necessário; a marcar as que me são favoritas – por admiração e afeto; a insistir com aquelas que parecem merecedoras de grifo; e principalmente – ser página virada.

Agora me sinto melhor ao ver que sobra espaço e ansiedade, que esse exorcismo vale mais que 1 sessão com um terapeuta carrancudo, que tudo possui uma simplicidade intrínseca – basta apenas parar para olhar, para admirar o contexto – fora dele.

As gavetas estão abertas à espera do novo. Não daquele que deleta com um carinho, mas que me faça entender com um tapa, um choro - o que de fato – essa complexa rede chamada vida me reserva a cada novo pulsar.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Um alento chamado Alicia Keys


Você, com certeza, já ouviu falar, conhece ou se rendeu à sua poesia cifrada. Eu já tinha ouvido falar, mas não dava muita importância. Imaginava que seu estilo black music não era bem o que os meus ouvidos iriam apreciar. Me enganei. 

Certo dia, após chegar do trabalho e me deparar com a falta de inspiração para um frela – comecei a buscar algo novo no youtube. Algo que abrisse minha mente; minimizasse minha ansiedade e me proporcionasse aquele estalo [insight]. Então resolvi clicar nos vídeos recomendados – dentre eles, adivinhem só: ‘Empire State Of Mind’, da Alicia Keys Feat Jay Z. 

Pronto! Pensei. Havia – finalmente – sido apresentada a ela. Depois de ouvir ‘Empire’ eu não consegui ouvir outra coisa. Ela ficou rodando em looping no meu note e na minha cabeça. Em menos de 5 minutos já tinha baixado dois álbuns dela: ‘As I Am’ e ‘Girl On Fire’ [novo]. 

Sinceramente - me arrependi de não ter parado para escutá-la antes. Afinal, tive várias oportunidades e indicações de amigos e colegas de trabalho. Mas, eu teimosa que só vendo – dizia internamente – nãnãninanão. Não tinha [nenhuma] noção do que estava perdendo. Agora eu sei e tiro uma lição disso. Nada de ideias preconcebidas antes de conhecer – seja lá o que for: música, livro, filme, série, cliente, job, tribo, pessoa... 

Então o inevitável aconteceu. Rendi-me à sua música com curiosidade e admiração. Queria saber mais sobre sua história, suas inspirações, seus erros e claro – os medos e dores que transformou em versos e notas - para denotar com sua voz e piano. 

Hoje, ela faz parte da minha trilha diária. É um alento que me ajuda a acompanhar os apressados ponteiros do relógio no caminho para o trabalho; os apressados pés pelas vias da selva de pedra na volta para casa. É inspiração e paz contínua. 
Recomendo!

terça-feira, 21 de maio de 2013

Eu viro as páginas, também sou página virada

Hoje, eu peço licença a mim mesma para postar aqui um texto que não é meu. Um texto de Fernando Pessoa que recebi de uma grande amiga. Ele veio em uma boa hora. Hora de virar as páginas, de ser página virada, de encerrar ciclos e aceitar finais - por mais tristes e inexplicáveis que eles pareçam. Faço dessa crônica evolutiva as minhas palavras. Inspire-se ;)

 "Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final… 
Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram. Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu… 

Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado. 

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar. As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora… 

 Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração… e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. 

Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais. 

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do “momento ideal”. Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará! Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.

Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és.. E lembra-te: Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão.

Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos."

Fernando Pessoa

segunda-feira, 20 de maio de 2013

De coração aberto

Acordo no meio da noite e me afogo em palavras. Dores, lembranças e ausências flutuam diante dos meus olhos, como uma nuvem de tags. Levanto e decido me esvaziar – anotando tudo que vier na cabeça. Poesias soltas em versos reflexivos. Tento criar um link dentro de mim – para que elas encontrem uma conexão prática ou razão estática da coexistência entre razão e emoção.

Sinto-me coadjuvante da minha própria história vendo pessoas queridas partirem por coisas pequenas – menores que o sentimento que imaginava que elas tinham por mim. Será que era sincero, verdadeiro, ou apenas um roteiro artificial? Nunca saberei. Sinto que me esqueci de atuar e apenas vivi, de verdade, me doando e querendo o bem.

Paro e penso. Certas insistências deixaram de ter traço persistente para configurarem teimosias vãs do meu coração. E como ele é teimoso. Vive levando nãos, silêncios indiferentes e expressões carregadas de “cresça”, “você é boba”, você é criança”, “vá tomar no cu” e “vê se me esquece”.

Acho que ontem ele – finalmente – se cansou. Cansou de ser tão bom. Tão transparente. Um sonhador adjacente. E com esse cansaço eu descanso, enfim, de selecionar [à dedo] personagens para minha história, de vida. É triste. Não nego. Mas agora tudo se torna mais prático. 8 e 80. Simples assim. Permanecerá – apenas – quem tiver vontade.

Assim - roteirizo com linhas firmes o caminho que a vida vem me mostrando. Cresço ao passo de cada engano, de cada bofetada, de cada palavra atravessada que recebo involuntariamente.

“Tudo tem volta”, “Tudo tem seu tempo” – dois clichês que levo comigo no pensamento. Um terceiro segue tatuado no braço direito: “Ascolta Il tuo <3” [Escute o seu coração] que é para não correr o risco de me esquecer dessa lei fundamental que sempre dita o próximo capitulo que vou escrever - dentro de mim.

Mais palavras, mais reflexões. Tudo se transforma em um manual prático de sobrevivência – nesse teatro chamado vida.


terça-feira, 16 de abril de 2013

O esplendor

Há tempos eu vinha andando em passos lentos, trôpegos e cheios de espinhos. Há tempos eu não andava. Eu arrastava os pés, o pensamento e o coração, sempre que me deparava com velhas lembranças. Algumas eu tentava, porém sem sucesso, guardar na gaveta. Era difícil. Fatos e fotos – volta e meia - me faziam recordar, reviver. 

O caminho sempre parecia longo, interminável e surreal. Os olhos falhavam – cansados e míopes com o meu ponto de vista. O peso que arrastava tornava a caminhada ainda mais enfadonha. O peso que puxava com dificuldade, não era só o do meu corpo. Era também o peso de mágoas que teimei em colecionar de uma só pessoa. Uma amiga, uma flor, uma irmã torta cheia de ideias malucas na cabeça e com um coração que sempre tem vaga para novos sonhos, pessoas e notas musicais. 

Arrastá-las tornava minha rotina mais lenta, melancólica e amarga. Puxá-las ladeira acima me tornava mais triste, inerte e fraca. Quando me davam uma folga, divagava – imaginando métodos e meios para me livrar delas, com a ajuda do coração. Se não fosse assim, elas continuariam tão qual – no mesmo lugar – a cutucarem cicatrizes, com velhas lembranças. 

Mas o tempo era tão covarde. Eu pensava que quanto mais ele passava, mais fácil seria virar a página, ser página virada. Eu me enganava – inutilmente. Então o desafiava para um duelo, sem cicatrizes, sem poeira, sem remexer o que já foi, sem alterar o tom de voz, sem trocar a cor do sorriso. Amarelo não me cai bem. Prefiro ser feliz a ter razão. 

Então paro e vejo que o tempo não era um covarde. Eu me enganei [de novo]. O tempo era sábio. Chegou sem duelo, sem discussão. E se foi - aliviando o peso que teimava em levar – desnecessariamente. Chegou numa tarde de domingo, sem palavras. Apenas me dei conta. Simples assim. 

Agora – venho observando uma nova versão de mim. Uma versão mais leve e mais feliz por voltar a ser doce como antes.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Acabou com o meu dia

Comecei essa quinta-feira com uma certeza: nada iria estragar o meu dia. Enganei-me. E fico feliz por isso. Seria muita pretensão querer ou imaginar que ele fosse lindo, mágico e perfeito – assim como são os dias na Terra do Nunca – onde as injustiças não vão além da rixa entre Peter Pan e Capitão Gancho. 

Ao sair da estação Praça da Árvore – deparei com a cena que me faria perder o dia – refletindo histórias, valores e contextos de uma sociedade nua e crua. Na sarjeta, uma linda família chinesa tomava suco de laranja doado por um funcionário do supermercado – que ficava logo na esquina. 

Uma família pequena, mãe e duas filhas. Uma com cerca de 2 anos e a outra com 5 anos. A mãe – com certeza - não tinha mais de 25 anos. Estavam sentadas sobre jornais estendidos, ao lado de duas bolsas cheias de roupas. Não vi nenhum brinquedo ou alimento. Mas não faltavam sorrisos e gratidão ao jovem funcionário. 

Passei os próximos 10 minutos de caminhada até a agência - pensando no porquê de tudo aquilo. O que será que aconteceu com elas? Por que vieram para o Brasil? Mas eu sabia: por mais perguntas que eu me fizesse, jamais saberia. Poderia apenas supor, imaginar uma história de sonhos que não deu certo. Uma história que começava em um cargueiro para o Brasil e que – infelizmente – não deu certo e agora está interrompida – por falta de oportunidade, de humanidade. 

Vejo-me em um lamento por não ter feito nada mais que acenar com a mão e dar um sorriso – que para minha alegria – foi retribuído. Devia ao menos ter conhecido sua história, descoberto que ela não é como eu imaginei, que o infortúnio foi mais simples. Mas não podia. A língua era um abismo entre nós. E a minha impotência era a corda que me pendurava de ponta cabeça nesse mesmo abismo – chamado globalização. 

Resta-me torcer por elas. Para que fiquem bem, protegidas de todo o mal que essa selva reserva em cada esquina. Resta-me romper as fronteiras da comunicação e – da próxima vez – agir com o coração, com humanidade. Resta-me não ficar imaginando. Tudo pode ser bem diferente. Menos pesado, menos doloroso, mesmo que o cenário seja denso e escuro. Resta-me pensar menos como pessoa e agir mais como gente – gente do bem.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Tudo está mais verdadeiro

Palavras soltas giram na minha cabeça na ida para o trabalho e na volta para casa - enquanto a discografia da Alicia Keys toca em looping nos meus fones, seguro para não cair com o movimento brusco do metrô, o meu coração fica mais tranquilo. É a serenidade. Tenho certeza. Ela está de volta para colocar ordem na casa. Em outras palavras, em mim. Isso porque tudo agora me parece mais próximo. 

E quanto mais próximo, mais palpável. Quanto mais palpável, mais real e verdadeiro. Sejam os sonhos e planos, que estão logo ali na esquina à espera de um depósito (R$) para que eu faça as malas e vá morrer de amores pela Itália, para que eu cresça e apareça no cenário digital com conhecimento e expertise - através de boas extensões, cursos, palestras e livros de grandes autores – como Martha Gabriel, Sandra Turchi, Gil Giardelli. Sem falar na minha inspiração literária e humana – Eliane Brum. 

Sejam as amizades, que perdem saturação, brilho e brush – com mágoas, palavras atravessadas e bolos – mas que também ganham - mais resolução, mais nitidez, mais contraste. Ao passo que conheço melhor os defeitos e as qualidades de todos que escolhi para ficar por perto, para ter por perto – de mim. 

Sejam os meus medos, que se encolhem quando me lembro de tudo que fiz e de toda coragem que vou precisar ter para conquistar tudo que desejo – daqui pra frente. Sejam as páginas em branco que avisto toda vez que olho para dentro de mim. Sejam os anseios que movem minhas inseguranças, impulsos e pitis. 

Sejam as notas das músicas que ouço, todos os dias, durante o dia, a noite e na insônia. Sejam os livros que formam fila à minha espera. Sejam os anos que chegam denotando rugas, responsabilidade e melancolia. Seja a sabedoria que chega de mansinho na companhia da paciência e do bom senso para tomar o lugar da desvairada intensidade e seus excessos. 

Tudo me mostra que tudo vai ficando mais nu, mais cru. Tudo vem pra revelar com transparência - que agora é a hora e a vez de renovar, de viver, de compartilhar todo o apreço, todas as ideias, todas as percepções e palavras justapostas que levo comigo – com quem me quer bem. Tudo fica mais verdadeiro para que toda [boa] oportunidade, pessoa e lembrança – viva - aqui comigo - dentro e fora do meu mundinho.Tudo fica mais verdadeiro para que o todo se amplie e me dê asas. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

E agora, Babi?


E agora, Babi? 
O sorteio causou, 
O download miou, 
O carregador sumiu, 
O miojo esfriou, 
E agora, Babi? 
E agora, Babi? 
Você que é feliz por nada, 
Que ajuda os outros, 
Você que cria posts, que curte, que compartilha sem dó? 
E agora, Babi? 

Está sem tlezentos tlinta, 
Está sem Naldo da depressão,
Está sem Juuudith,
Está sem meninas super poderosas, 
Já não pode mascar durex, 
Já não pode comer coraçãozinho no tiozinho, 
Passar raiva com o Thi já não pode, 
O patinador não veio, 
O seu buzão não veio, 
O riso não veio, 
Não veio a bicharada, 
E o chocolate faltou, 
E agora, Babi? 

E agora, Babi? 
Sua generosidade, 
Seu instante de euforia, 
Sua gula e jejum,
Sua simpatia,
Sua pró-atividade,
E agora? 

Com o celular na mão 
Quer tirar foto, 
Não existe despedida; 
Mas o filtro não abriu 
O instaglan está estlagado; 
Babi, e agora? 

Se você risse, 
Se você aloprasse, 
Se você cantasse, 
Se você estressasse, 
Se você desse reply, 
Se você sumisse... 
Mas você não some, 
Você é phoda, Babi!

segunda-feira, 11 de março de 2013

A HORA DA ACEITAÇÃO

Eu aceito. Simplesmente aceito, porque já cansei de insistir. Chega uma hora em que a alma cansa e o coração padece. Perde forças diante da teimosia, da persistência, do jogo vencido e do tempo perdido com insistências vãs. Mas reconheço - houveram algumas que valeram a pena e outras que de nada valeram. São apenas dores que não consigo curar.

Eu aceito que tenho uma tendência melancólica. Esse texto é um bom exemplo. Hoje eu preciso me esvaziar de algumas percepções e aproveitar a oportunidade de ter tantos olhos me lendo, me ouvindo, lembrando-se de mim ao passearem por minhas palavras. Muitos vão pensar que esse meu esvaziar é excesso. Pode até ser – aos olhos de quem não sabe o poder que as palavras têm; a terapia que é tirá-las de dentro e jogá-las para fora, ao vento.

Eu aceito que tenho um grande defeito. Que não se apaga com o tempo, com o crescer, com o saber, mas com o lamento. O defeito é a mágoa. E com ela, eu assumo – tenho apego. Às vezes, um apego de um dia, mas na maioria – é para a vida toda. E ao perceber essa falha incorrigível eu tento diminuir o meu próprio julgamento com um mantra, um clichê: “eu perdoo, mas não esqueço”. Quem sabe daqui há 30 anos – isso seja diferente?! Porque diferente eu vou estar – ao menos assim espero, torço e rezo.

Eu aceito que já fui uma indomável sonhadora. Enxergava a vida como Peter Pan. Em cada esquina via um artista, um jornalista e escritor que eu admirava. Mas eu tenho astigmatismo – e na maioria das vezes em que via, não via, estava sem os óculos - projetando meu desejo, minha imaginação. A culpa é dela, da realidade, mais nua – do que crua. Ela me mostrou que é melhor não criar expectativas - elas podem machucar o coração de um jeito bem cruel. Espero um dia voltar a ver o mundo com o mesmo encanto de antes. Eu me divertia.

Eu aceito que tenho uma triste sina, a de forever alone. Para começar nasci no dia 25 de dezembro. As pessoas, até mesmo meus amigos mais queridos, se esquecem de ligar para dar os Parabéns. Nunca tive uma festa de aniversário – só minha. O meu bolo sempre foi partilhado com Jesus, ali na hora da ceia. E uma vez que tentei fazer uma - reservei uma mesa para 30 pessoas no dia 28, para não competir com Jesus, mas não adiantou, não apareceu ninguém. Chorei o dia inteiro – um trauma.

Eu aceito que fui obrigada a aceitar muita coisa. E por isso, aceito ter uma dose desconfiança, intolerância e desapego. Já tenho quase 30 e não vou aceitar mais ser feita de boba, ser passada para trás – principalmente – na esfera profissional. Já tenho quase 30, aceito a responsabilidade que a idade traz, não o seu peso.

Eu aceito tudo isso, mas reconheço que amanhã posso acordar diferente e não dar a mínima para isso tudo. Colocar uma música da Norah Jones para começar o dia serena. Pensar no cineminha do fim de semana. Sentir alívio por estar tudo ok com os meus pais. Alegrar-me pelo meu trabalho estar indo bem.

Eu aceito toda essa reflexão como uma auto-análise. Um recado da razão para o coração – e vice e versa. Aqui os remetentes se confundem, se completam e evoluem juntos com a mensagem e o apreço pela vida.

terça-feira, 5 de março de 2013

A minha vida me faz perder o sono

As horas vivem com pressa e eu [simplesmente] acompanho. Não consigo mais desacelerar o compasso, o embalo, a toada, o ritmo, o passo ligeiro dos meus pés. Não consigo embalar o sono, o meu sono nas horas mortas do dia - em que o meu corpo precisa de noites para descansar o peso que a alma leva consigo.

Olheiras batem na porta do meu olhar. Pedem para morar comigo. Não tenho escolha. Chegam sempre sem avisar, vestidas de 50 tons de cinza, roxo, preto. Tons do velório do meu sono. Nem mesmo o corretivo e a base conseguem disfarçar os tons e o endereço que elas escolheram velar.

A minha vida me faz perder o sono duas a três vezes na noite. E não há nada que me faça desistir de voltar para o aconchego da minha cama. Mesmo depois de distrair os pensamentos insistentes com um copo d’água, um pulo no banheiro, um assalto à geladeira e uma olhada nas últimas atualizações do facebook. Eu insisto, sempre. 

É uma batalha diária. Reconheço. Mas vale a pena. Vale muito a pena cada fração de segundo ou hora inteira - de olhos fechados, de mente vazia, de coração isento de responsabilidades, julgamentos e do exercício do sentimento – ao passo de cada momento. 

A minha vida me faz perder o sono sempre. E insone me faz entender o que é evidente. Não se conquista soluções com insônia. As contas só serão alívio quando forem pagas. As metas, planos e sonhos vão se realizar, sim, mas quando trocar o lamento e as noites em claro por planejamento. 

Diagnósticos? Dispenso. Afinal, nenhuma mandinga, simpatia ou reza braba para proteger o corpo dos males – será eficiente - se a mente não estiver em paz. Não é preciso ser um especialista para chegar a essa conclusão. 

Entonces...Para mudar o título dessa crônica, o tom das molduras dos olhos, o roteiro das horas perdidas e a rotina atrasada do meu sono – devo rezar, proteger-me com pensamentos positivos, deitar a cabeça no travesseiro [somente] com a consciência limpa e me perder em boas lembranças até o sono chegar de mansinho - para tirar o peso do coração e dar para as pálpebras, para que elas se fechem, se entreguem ao descanso.

sábado, 2 de março de 2013

Caderninho de anotações

Neste sábado, 02 de março, eu ganhei um presente especial. Quem me presenteou não sabe quão especial ele me foi. Talvez, eu não tenha demonstrado isso. Tenho essa limitação. Eu reconheço. Às vezes, me sinto meio esfinge. Fico feliz, me vejo sorrir, mas nunca consigo expor todo o encanto que senti – pelo carinho, pela inciativa e pela lembrança. 

Ganhei um caderninho de anotações [vulgo Moleskine]. Daqueles que sempre quis ter, desde que me entendo por gente, gente que ama as palavras. Daqueles que via grandes jornalistas, jornalistas que eu admirava, fazerem suas preciosas anotações, terem seus ensaios criativos, poéticos, revolucionários. 

Não sei bem porque nunca comprei um, dois ou três – logo de uma vez. Afinal, eles sempre despertam minha atenção na livraria. Cores vibrantes, capas bonitas, com palavras, com fotos de grandes artistas, como Audrey Hepburn. Com pauta para organizar os pensamentos. Sem pauta para não limitá-los. Uma parada obrigatória admirá-los quando vou lá comprar um livro, um cd, um dvd ou só vou buscar uma dose de fantasia. 

Ao chegar em casa - eu o tirei da bolsa, o admirei e não resisti. Peguei uma caneta e escrevi: “As palavras sempre falaram por mim”. Uma confissão que assinei com o desenho de uma rosa, como a rosa do Pequeno Príncipe. Pronto! Apresentei-me e confiei a ele a versão subjetiva do meu coração. 

Daqui pra frente, mais que o caderninho que sempre sonhei, uma extensão da minha voz, da minha paz. Daqui pra frente, não vou perder insights por preguiça de pegar um caderno e anotar ou ligar o note e deixar salvo para depois. Daqui pra frente, palavras justapostas que inspirarão novas poesias, crônicas, histórias para compartilhar.

Agradeço ao meu querido amigo - Fernando Guarniéri. O presente me inspirou e amenizou a falta que sinto da minha escrivaninha xerife. Aquela, que antes de ser minha, foi sua. E que agora está na casa dos meus pais. Sempre que vou visitá-los - eu a fito com saudade e me vejo. Vejo quem eu fui, quem eu sou e quem estou perto de me tornar.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O menino que colecionava sorrisos

Às 9h30 cheguei à Sé. E como de costume, estava com os fones presos aos ouvidos, cantando em silêncio uma canção da Laura (Pausini), em comemoração aos seus 20 anos de carreira. Distração entre acordes e agudos que não durou mais que 5 minutos. 

Felipe surgiu no outro lado da plataforma. Sentando em sua cadeira de rodas, como um verdadeiro Dom Quixote De La Mancha sob seu valente cavalo. Mas esse detalhe eu só perceberia depois – ao ver sua mãe empurrá-lo com cuidado vagão à dentro. 

Antes de o metrô chegar, ele deu início à sua missão do dia: despertar sorrisos. Ele acenou pra mim, como se visse alguém conhecido. Mas não, não tinha ninguém mais. E eu não estava segura que o aceno fosse pra mim, então não me movi. Fiquei como uma esfinge. Sem demonstrar emoção, com receio dela não ser minha, por direito.

Ele repetiu o aceno e deixou claro que eu estava enganada. Desfiz a esfinge e abri um sorrisão. Ele sorriu do outro lado, balançando um gibi da turma da Mônica. E logo imaginei que ele fosse portador de deficiência intelectual. Mas, me enganei novamente. 

Ao entrar no trem, o vi diante de mim, todo feliz da vida. Sem nenhuma amargura por estar ali preso, com cinto de segurança a uma carruagem moderna que inspira deficiência, dor e limitação. Sem nenhuma vergonha, começou a ler o gibi e eu fiquei atenta, mais ao seu gesto, que ao texto em si. 

Senti os olhos serem inundados por lágrimas alegres. Fiz um esforço, engoli-as e segurei-as entre a certeza que ele era feliz e a salvação. Não importava o que me acontecesse depois, no trabalho ou fora dele – o meu dia estava salvo. Salvo por um aceno. Salvo por um sorriso roubado. Quando me escondia dos ruídos da selva através da música. Então tirei um dos fones ao perceber que ele queria me dizer algo, mas não disse. Apenas pôs-se a admirar a tatuagem do meu pé direito por longos 2 minutos. 

Descobri seu nome porque ouvi sua mãe dizer: chegamos Felipe. Guarde a Mônica. Então ele guardou o gibi no colo e voltou a me mirar. Quando o metrô parou em Paraíso ele juntou as mãozinhas, em um movimento de vibração e bateu algumas palmas. 

Ao sair - olhou-me mais uma vez, disse ’tchau’ e deu um sorrisão de orelha a orelha. Sorri de volta, mas lamentei sua partida. Não trocamos mais que um tchau, mas sabia que ele havia falado comigo em meu silêncio introspectivo, em minha espera cronometrada até chegar à agência. Ele conversou comigo por longos 30 minutos sem me dirigir a palavra. Porque o seu diálogo foi feito de sorrisos sinceros e objetivos. 

Uma vez ou outra, durante o dia, me peguei sorrindo sem motivo. A turma da agência chegou até mesmo a dizer: hoje você tá que tá, hein? Sim. Eu tava que tava feliz. Feliz por ter conhecido o pequeno Felipe, o menino que colecionava gibis e sorrisos.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Cada coisa em seu lugar

É sempre assim. E eu já deveria saber. Vivi tantas desventuras, e todas elas renderiam boas crônicas à la Eliane Brum. Mas faltou leveza. As últimas cinco – por exemplo - estavam carregadas de um ressentimento nostálgico, para não dizer corrosivo. A culpada? Em minha opinião – era a crise mundial. A crise pela escassez de oportunidades e de resoluções que eu clamava – todo santo dia. Por mais que eu teimasse e corresse atrás. 

Até mesmo a crônica que fiz em homenagem a minha desbravadora amiga, Juliana Laterza - teve um quê de tristeza, de passado e de pesar diante de tudo que foi superado. E pra quê? Afinal – o passado sempre revela como somos/estamos melhores agora - no presente, mas também cutuca fatos que seguem cicatrizando a passos lerdos. 

Faltou sutileza. Estou ciente. Tudo estava fora do lugar. A angústia estava fora da gaveta, substituindo a serenidade. E a ansiedade, dentro, no papel de terrorista – que sempre se divertia detonando expectativas, sonhos e planos – de curto e longo prazo. 

E o Miscelânea e o Facebook eram pontos de desabafo, na falta de ouvidos. Eram caos, na falta de bom senso. Eram válvulas de escape, na falta de boas notícias. Eram cartazes, cartazes depressivos – que pediam a atenção de amigos e colegas de mercado. Mas tudo que eu conseguia receber - com esse misto desequilibrado de ideias, de exposição e de sentimentos errantes – era unfollow, pena e arrogância.

Então, como tudo na vida, chegou o esperado momento da virada. Virada de planos e de pensamentos. Fruto de uma simples e decisiva escolha profissional. E com ela, cada coisa foi voltando o para seu devido lugar. A angústia, agora trancada, segue muda. A ansiedade ainda está em cena, mas em outro papel, no de estimulante de expectativas, saudades, iniciativas, ideias e sonhos – que voltam renovados e fortalecidos. Ficam várias lições, novas percepções e um sorriso satisfeito para celebrar a mudança. 

Mas antes de findar esse relato transparente – deixo aqui o meu mais sincero agradecimento a minha família, amigos e colegas de mercado. Em especial – Daniela Daia, Gustavo Pires, Juliana Laterza, Gilmara Santos, Aline Caparroz, Gustavo Antunes, Cecilia Nery, Elaine Xavier Talala, Lair Rosa Talala, Flávia Pissinin, Nadja Pereira, Luciana Zacarias, Grazy Tavares, Fernando Guarniéri e Eliane Brum. Vocês foram essenciais.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A história de uma desbravadora

Ela se chama Juliana Laterza Vilela. E vive na selva de pedra. Onde o concreto aponta para o céu em um chamado desesperado por evidência, a evidência de Deus. Onde o mundo se encontra em cada esquina. Onde cada esquina revela um continente, um sonho, um escombro em forma de gente. Onde chegou com a cara, a coragem e uma mala. 

A cara e a coragem na mão direita, a mala na esquerda. E no coração um punhado de incertezas e vontades. Vontade de encontrar sua bússola, conquistar novas experiências, novas percepções. Tudo novo. O novo a seduzia e a intimidava. Era um descompasso. 

Um colega. Um amigo. Um irmão. Abriu os braços e a empurrou selva adentro para provar seu talento e conhecimento. E Juliana entrou, meio sem jeito, sem saber ao certo o que estava fazendo ali. Tudo lhe parecia meio insano, meio estranho. Ali não era sua terra. Não era o seu lugar. Estava longe da família. Longe da zona de conforto. Longe até mesmo de si própria. 

Então o desafio lhe foi dado. E foi ali que Juliana começou a escrever sua história na selva. Os primeiros capítulos, a sobrevivência. E essa parte levou quase dois anos para findar. Levou também parte da serenidade em algumas mudanças, lágrimas e contradições. Mas deixou aprendizado, paciência e maturidade – na mesma medida. 

E a velha impressão que os homens da selva haviam tido dela: de garota frágil, singela e tímida, foi aos poucos dando lugar a um novo retrato, a uma nova e forte impressão. Agora, Ju, como é chamada pelos mais íntimos, havia revelado sua fibra e o seu grande coração. Onde sempre cabe mais um. Onde sempre é possível encontrar palavras de conforto e de cumplicidade para as horas mais tristes e arrastadas do dia. Onde o ‘relaxa’ e o ‘ vai dar tudo certo’ viraram um mantra do bem. Onde Juliana pode ser vista como ela realmente é: força, determinação e doçura. 

Uma desbravadora. Uma vencedora. Uma menina doce que foi longe. E que irá ainda mais longe. Para quem, nem de perto, é possível medir adjetivos. Vai por mim. Quem a conhece sabe disso. E quem não a conhece agora já sabe. 

No dia 18 de maio, Juliana irá adicionar mais um capítulo a essa história. Uma história que está longe do fim, mas que já chegou na parte do FELIZ PARA SEMPRE.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A hora e a vez do desapego

2013 é o ano que escolhi para, enfim, exercitar o desapego. Há 5 anos venho fazendo essa promessa, bem ali, nos últimos 60 segundos em que o ano velho se despede, com melancolia. Mas nada. Nada de cumprir. Nada de conseguir levar adiante, durante os 365 dias. Nada de resolver esse duro exercício de evolução abstrata. Sim, abstrata. Os apegos que colocam meu coração em um descompasso não são livros. Não são cd’s, dvd’s. Não são recortes de jornal. Não são imãs de geladeira. Nem revistas. Não são palpáveis. 

É o avesso. É a antítese que me prende à introspeção contínua. São escombros deixados por palavras lançadas como misseis, sob o efeito corajoso de um aditivo. São escombros de velhas crenças. São escombros de sonhos que imploram por uma reforma. São ausências. São atitudes efusivas. É o alicerce de uma angústia muda. Que cala e não consente.

Todos esses apegos complexos, doídos, velhos e ressentidos precisam de uma faxina. Mas, como não vou conseguir me livrar de todos até 31 de dezembro – criei gavetas. Nelas, esqueci algumas mágoas. Que me provocam medo, desconfiança e revival. Que me endurecem. Que me travam a sinceridade. Que me deixam com um pé atrás – mesmo com pessoas queridas.

Tranquei todas as gavetas e levo a chave tatuada no braço direito: Ascolta il tuo cuore (Escute o seu coração). Uma mensagem simples que pode parecer piegas - mas não, não é. Um post-it fixo que lembrará o que devo fazer, que caminho seguir, que palavras dizer e que sorrisos conceder. Um tratado de verdade. Um roteiro transparente. 

Estou mais leve, agora que deixei parte do peso que impedia minha redenção em gavetas empoeiradas. Daqui pra frente, mais leve, mais doce e menos apegada.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Um desatino certo

Mente inquieta
Corpo inerte
Coração incerto

Perdem tempo
Perdem sono
Perdem peso, cor e paz

Enquanto querem
Palavras, respostas, resoluções

Esperam insones por
Vitória, arranjo e voz

Enquanto perdem,
Angustiam,
Sofrem,
Pelejam,
Superam,
Evoluem,

E...

Vencem as linhas tortas do destino
Com persistência voraz.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O limite não é o limite

Essa crônica é um descarrego de angústias, tristezas e ansiedades que têm pesado minha alma. Parece piegas, mas não, não é. E quem me conhece sabe muito bem disso. Sabe também que tenho ido muito além do que eu imaginava, do que muita gente um dia imaginou.

Sim. Eu fui longe. Venho de uma família humilde e saí de uma cidade do interior para testar o meu limite. Mas o que eu mal sabia é que jamais o conheceria de fato; jamais pensaria que teria tanta força e fé para vencer intempéries – dia após dia; e que sobreviveria à selva sim; e que teria tamanho equilíbrio para não divagar, não me maravilhar, e o mais importante, não surtar. 

Longe de mim fazer qualquer tipo de apologia sobre SP para quem escolheu viver aqui ou está pensando em vir para cá. Estou apenas dividindo minha percepção. Cada um tem a sua – conforme suas experiências e oportunidades.

Amo SP! Por isso – resolvi aceitar que jamais conhecerei o meu limite de sentir saudades da família, de viver no vermelho, de dormir com bichos de pelúcia na falta de um amor e de levar bolo dos amigos depois passar horas esperando por eles. 

Muitos chamam isso de aceitação, mas eu tenho um outro nome: serenidade - Um clichê que deixa nossa vida mais doce, mais leve ao passo que evoluímos e percebemos que confronto só traz desgaste, vícios e feridas. 

Eu quero ir mais longe. E sei bem onde quero chegar. Talvez, quando chegar lá – na publicação do meu livro infantil, na minha volta ao mundo, na consolidação da minha carreira como redatora, no arranjo da minha vida pessoal – eu possa conhecer o limite e queira parar de persistir, de insistir, de teimar tanto com os tropeços, pedras e paus que formam a geografia do meu caminho.