terça-feira, 16 de setembro de 2014

UM RIO CHAMADO TEMPO

Lanço-me no vazio altivo da página branca do Word para esvaziar-me um pouco. Mas antes, pego emprestado um título de Mia Couto para dar voz a esse reclame que reclama em mim, a vontade de irromper as fronteiras de meu ser para, enfim, ganhar outras tantas, além da minha geografia. Havia um bom tempo que não fazia isso: transformar-me em palavra escrita, assim sem pensar. Deixando apenas que a emoção exceda as curvas que a razão desenha para domar nossos passos, nossos desejos, e acima de tudo, nossos demônios.

Demorei-me. É verdade. Mas foi necessário. A alma clamava por calma para remendar-se, depois de tantos dias iguais. De um bem-querer tão grande e profundo que até Deus fez força para entender. De perder-me por um segundo e depois reencontrar-me em uma letra de música. De não reconhecer-me como palavra, como reflexo desnudo no olhar do outro, como conexão viva nessa capital com ares de babilônia. Muito menos, como parte da terra em que nasci. Percebia-me nômade. Intrusa assistia a tudo sem refletir o porquê dessa derradeira complacência. Não era protagonista, muito menos figurante. Fazia a vez de expectadora para entender o que o tempo pretendia comigo. Esperei. 

Procrastinei. Eu confesso. Levei 3 dias para terminar esse texto. Escrevia uma linha, refletia duas. Voltava com backspace, compunha outras tantas. Mas insistia. Não sabia/entendia/enxergava, ao certo, esse ‘esvaziar’, sem uma boa dose de melancolia. Preferia que fosse alegre e cheio de constatações. Mas nem elas apareceram para morar em mim. Teriam feito toda a diferença nessa temporada introspectiva, deixando-a mais curta e objetiva e se possível, sábia. Rsrsrs.

O tempo se mostrou senhor de todos os destinos, impulsionando meus dedos sob as teclas, mesmo que arrastasse os pensamentos e perdesse o foco, vez ou outra. Ele queria, porque queria, ver-me como palavra, com acento e sinapse. Quanto mais que eu tentava fugir dessa ideia, minhas mãos agarravam-se ao teclado, como se estivessem algemadas. Então percebi que a teimosia era um recado tatuado nas profundezas de minh’alma. Ela pedia mais que atenção. Pedia delicadeza para olhar para dentro e perceber o que me é evidente. Tempo, tempo, tempo...