quinta-feira, 4 de abril de 2013

Acabou com o meu dia

Comecei essa quinta-feira com uma certeza: nada iria estragar o meu dia. Enganei-me. E fico feliz por isso. Seria muita pretensão querer ou imaginar que ele fosse lindo, mágico e perfeito – assim como são os dias na Terra do Nunca – onde as injustiças não vão além da rixa entre Peter Pan e Capitão Gancho. 

Ao sair da estação Praça da Árvore – deparei com a cena que me faria perder o dia – refletindo histórias, valores e contextos de uma sociedade nua e crua. Na sarjeta, uma linda família chinesa tomava suco de laranja doado por um funcionário do supermercado – que ficava logo na esquina. 

Uma família pequena, mãe e duas filhas. Uma com cerca de 2 anos e a outra com 5 anos. A mãe – com certeza - não tinha mais de 25 anos. Estavam sentadas sobre jornais estendidos, ao lado de duas bolsas cheias de roupas. Não vi nenhum brinquedo ou alimento. Mas não faltavam sorrisos e gratidão ao jovem funcionário. 

Passei os próximos 10 minutos de caminhada até a agência - pensando no porquê de tudo aquilo. O que será que aconteceu com elas? Por que vieram para o Brasil? Mas eu sabia: por mais perguntas que eu me fizesse, jamais saberia. Poderia apenas supor, imaginar uma história de sonhos que não deu certo. Uma história que começava em um cargueiro para o Brasil e que – infelizmente – não deu certo e agora está interrompida – por falta de oportunidade, de humanidade. 

Vejo-me em um lamento por não ter feito nada mais que acenar com a mão e dar um sorriso – que para minha alegria – foi retribuído. Devia ao menos ter conhecido sua história, descoberto que ela não é como eu imaginei, que o infortúnio foi mais simples. Mas não podia. A língua era um abismo entre nós. E a minha impotência era a corda que me pendurava de ponta cabeça nesse mesmo abismo – chamado globalização. 

Resta-me torcer por elas. Para que fiquem bem, protegidas de todo o mal que essa selva reserva em cada esquina. Resta-me romper as fronteiras da comunicação e – da próxima vez – agir com o coração, com humanidade. Resta-me não ficar imaginando. Tudo pode ser bem diferente. Menos pesado, menos doloroso, mesmo que o cenário seja denso e escuro. Resta-me pensar menos como pessoa e agir mais como gente – gente do bem.

2 comentários:

Luiza Coelho disse...

Ganhou o dia... ganhou por ter parado para refletir sobre a importância de estarmos nesse planeta que foi dividido em continentes apenas para facilitar a organização mas que na verdade é um só e com a globalização percebemos isso de forma cada vez mais clara... um problema que acontece na China é problema nosso sim pois somos todos um mesmo povo, buscando a tão preciosa evolução espiritual... sim, tudo que acontece na vida gira em torno disso, por mais que pareça que o ser humano está mais oco ou pensando apenas no lado material... quem sabe estamos nos "individualizando" cada vez mais para notarmos a importância do próximo?
Certa vez li uma matéria da Eliane Brum, que vc tanto admira (acho que até foi você que colocou no facebook, não me lembro agora) chamada Minhas raízes são aéreas e a psicóloga do Médico Sem Fronteiras disse várias coisas que me chamaram atenção e uma delas é que sim, a gente pode mudar o mundo... o mundo de alguém pode ser mudado com um sorriso, um suco de caixinha, um abraço! E com isso em mente, eu te digo: não é pretensão nenhuma sonhar com um mundo de Alice porque temos potencial pra isso e vamos chegar lá, cada um se mudando e pensando mais no coletivo. Minha amiga fez um retiro onde dormiu quatro dias na rua como mendigos e falou que eles passam despercebidos porque todos já se costumaram com a existência de gente nessa condição... que bom que nao se acostumou!
E digo mais, nessa mesma matéria da Eliane, a psicóloga ainda fala que mudanças de hábitos dentro de nossa própria terra muda o mundo... produtos sendo fabricados as custas de trabalhos escravos na China são vendidos os tempo todo a preços altíssimos e nós compramos se perceber a gravidade disso...
Bom, como eu sou da turma da Alice apesar de ter Coelho no meu nome, eu amo sonhar, ver a beleza desse mundo e a justiça em tudo... até em suas imperfeições (no nosso ponto de vista), esse mundo é justo e ainda são necessárias as dores... um dia será só amor! Mas na dor sentimos a igualdade que um dia sentiremos no amor.
Gostei de refletir com vc!

Se quiser ler, olha o cara que propõe o retiro de rua: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/66804-o-bad-boy-do-zen.shtml

beijinhos e levanta a cabeça... canalizemos as nossas revoltas pro bem! Como Pink e Cérebro... vamos mudar o mudo!

Cecilia Nery disse...

Na correria do dia a dia a gente às vezes nem percebe esses fatos. Sentimos, mas não fazemos nada. E o que podemos fazer?
Você teve a sensibilidade para ver e imaginar a história por trás da cena, mas acabou seguindo em frente, não sem ficar matutando sobre o assunto. Acho que teria feito o mesmo. É uma pena que a gente deixe essas oportunidades, de chegar no outro, passarem.
Hoje estava comentando com uma amiga do trabalho sobre as pessoas que ficam no metrô ou no ônibus encerradas em si mesmas (eu também sou assim), mexendo no celular, com um tablet na mão, ouvindo música, enfim, se fechando para o mundo e o que acontece a sua volta.
A evolução faz bem e a tecnologia mais ainda. Mas o humano sempre tem de prevalecer.
Pensar e escrever sobre o assunto já é um grande passo. Beijos.

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