sexta-feira, 18 de novembro de 2016

AQUELE DOS 40% DE ASPERGER


No final de 2015, eu fiz um teste despretensioso que mostrou que tenho traços da Síndrome de Asperger. Mas confesso que não levei à sério. E, em poucas horas já tinha abstraído. Mais por uma questão de me considerar “normal” para tal diagnóstico, que por não aceitar ser tão peculiar.

O que eu não sabia é que passei a vida inteira como tímida, quieta, retraída e introvertida, papéis que eu não deveria ter aceitado representar sem contestar. Ou gritar para alguém: Eu não sou tímida! Apenas prefiro ficar sozinha, no meu mundo ou com a minha família e com os amigos, que conto com os dedos de uma só mão, em casa, lendo, ouvindo música, escrevendo ou assistindo filmes no cinema (meu programa preferido).

Mas com o passar do tempo, o quebra-cabeça que sempre tentei montar para começar a entender: a minha maneira de enxergar o mundo e outros; de me dedicar à temas específicos e super segmentados e de interagir, especialmente quando o assunto é amor (cheia de estratagemas - como a personagem Amélie), começou a se encaixar com os 40% do teste.

Peça após peça, fui tomando consciência de sintomas corriqueiros – que não me limitam (quem me conhece, sabe), mas justificam e me fazem compreender e aprender sobre os desafios comportamentais e emocionais – que busco reconhecer, para evoluir e levar uma vida mais feliz. Porque normal nunca será.

O status de peculiar sempre irá me acompanhar – através de pequenas sutilezas, como tapar os ouvidos – para evitar ouvir pessoas no corredor do meu prédio falarem da nova vizinha (no caso, eu); TOC de conferir porta, gás, ferro e agenda (com repetição de 3); ficar sem palavras em conversas triviais com quem não me sinto à vontade; me sentir desconfortável em aglomerações (happy hours, aniversários, etc) – para não falar dos silêncios.

No momento em que escrevo esse texto/desabafo, cenas de “Tão Forte e Tão Perto” (Drama Asperger com Sandra Bullock e Tom Hanks) passeiam por minhas lembranças em um movimento contínuo. Foi um filme que me marcou pela profundidade e pela porção que fez pensar, me identificar – com a angústia, mas também, com a delicadeza.

Agora, espero (ansiosamente) por dois livros que vão abrir minha mente (um pouco mais) pra esse re-conhecer. São eles: "O poder dos quietos", de Susan Cain e "O que me faz pular", de Naoki Higashida. E, sei que muita coisa me espera.

0 comentários:

Postar um comentário