segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pergunta que não quer calar

O que devemos fazer quando não podemos mais calar a voz que vem de dentro? Aquela velha voz que ressoa toda vez que somos abatidos pela angústia? Que ecoa quando somos intimidados pela doce realidade sempre preferimos cultivar esperança, apesar de todas as intempéries? Que afina em suspiros sustenidos ao levarmos uma surra da saudade e de suas irmãs, a nostalgia e a melancolia? 

É difícil saber ao certo o que fazer, o que sentir, o que pensar. Tudo que se enxerga é inércia. Uma imensidão inerte de palavras póstumas. Palavras que morreram por aborto, quando – por ignorância ou receio - as prendemos entre os dentes. Palavras que se mataram ao verem o abismo que as esperam. Adjetivos que se perderam pelo caminho ao serem ditos com falsidade. Pronomes que seguem desaparecidos depois que as gírias chegaram para simplificar a comunicação on-line e dar vida a quem vivia na mudez estática. 

Não existe um manual de instruções. Simplesmente fazemos aquilo que achamos ser o certo. Isso, quando ele surge com toda sua sabedoria e nos aconselha - com um sussurro - o próximo passo. Seja esquecer, perdoar, superar, perseverar ou vencer. Ele, o coração, sempre sabe o que fazer. Mesmo que a mente diga o contrário. Ela vive em conflito por sua racional abstração de ser a razão e não o sentimento. 

Mas antes surge a introspecção para velar o tom desse espetáculo interno, como se fosse um ensaio. E nessa passagem de som que - às vezes - leva dias, semanas, meses, anos - descobrimos o ritmo natural das coisas, pessoas, fatos e por que não, da vida. Da nossa vida, da vida alheia, do conjunto total dessa renascença que é o amanhã. 

Depois vem a dúvida: De que maneira podemos soltar essa voz? Com um monólogo sereno no espelho? Uma oração sincera antes de dormir? Um diálogo prático com o que/quem vem alimentando a angústia? Um briefing para si, para esquecer tudo e se colocar pronto(a) para outra, seja lá o que esteja por vir? 

Essa é a vida. É assim que funciona. É assim que nossa maturidade chega para dar boas-vindas para as próximas vozes loucas, estranhas, tímidas, sofridas ou não. Resta-nos torcer para que elas façam um show, sim. Mas de emoções positivas, de razões práticas, de impasses desafiadores, de adjetivos que nos arranquem sorrisos só de pensarmos em usá-los, de expressões que nos inflam – como o ‘Eu te amo’. E façamos desse festival introspectivo – um repertório eclético que nos permita crescer, sempre – acima de qualquer coisa. Afinal, o show não pode parar.

2 comentários:

gil disse...

lindo.poético.verdadeiro. adorei!

Luciana Zacarias disse...

"De que maneira podemos soltar essa voz"? Bela reflexão desabafo, Ju. Para mim, arte, cultura, amigos e tempo são remédios imbatíveis ;). Uma dica de belo texto para você:
http://avidaemazul.blogspot.com.br/2012/04/feliz-ate-doer.html

Bj, Lu

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