segunda-feira, 11 de março de 2013

A HORA DA ACEITAÇÃO

Eu aceito. Simplesmente aceito, porque já cansei de insistir. Chega uma hora em que a alma cansa e o coração padece. Perde forças diante da teimosia, da persistência, do jogo vencido e do tempo perdido com insistências vãs. Mas reconheço - houveram algumas que valeram a pena e outras que de nada valeram. São apenas dores que não consigo curar.

Eu aceito que tenho uma tendência melancólica. Esse texto é um bom exemplo. Hoje eu preciso me esvaziar de algumas percepções e aproveitar a oportunidade de ter tantos olhos me lendo, me ouvindo, lembrando-se de mim ao passearem por minhas palavras. Muitos vão pensar que esse meu esvaziar é excesso. Pode até ser – aos olhos de quem não sabe o poder que as palavras têm; a terapia que é tirá-las de dentro e jogá-las para fora, ao vento.

Eu aceito que tenho um grande defeito. Que não se apaga com o tempo, com o crescer, com o saber, mas com o lamento. O defeito é a mágoa. E com ela, eu assumo – tenho apego. Às vezes, um apego de um dia, mas na maioria – é para a vida toda. E ao perceber essa falha incorrigível eu tento diminuir o meu próprio julgamento com um mantra, um clichê: “eu perdoo, mas não esqueço”. Quem sabe daqui há 30 anos – isso seja diferente?! Porque diferente eu vou estar – ao menos assim espero, torço e rezo.

Eu aceito que já fui uma indomável sonhadora. Enxergava a vida como Peter Pan. Em cada esquina via um artista, um jornalista e escritor que eu admirava. Mas eu tenho astigmatismo – e na maioria das vezes em que via, não via, estava sem os óculos - projetando meu desejo, minha imaginação. A culpa é dela, da realidade, mais nua – do que crua. Ela me mostrou que é melhor não criar expectativas - elas podem machucar o coração de um jeito bem cruel. Espero um dia voltar a ver o mundo com o mesmo encanto de antes. Eu me divertia.

Eu aceito que tenho uma triste sina, a de forever alone. Para começar nasci no dia 25 de dezembro. As pessoas, até mesmo meus amigos mais queridos, se esquecem de ligar para dar os Parabéns. Nunca tive uma festa de aniversário – só minha. O meu bolo sempre foi partilhado com Jesus, ali na hora da ceia. E uma vez que tentei fazer uma - reservei uma mesa para 30 pessoas no dia 28, para não competir com Jesus, mas não adiantou, não apareceu ninguém. Chorei o dia inteiro – um trauma.

Eu aceito que fui obrigada a aceitar muita coisa. E por isso, aceito ter uma dose desconfiança, intolerância e desapego. Já tenho quase 30 e não vou aceitar mais ser feita de boba, ser passada para trás – principalmente – na esfera profissional. Já tenho quase 30, aceito a responsabilidade que a idade traz, não o seu peso.

Eu aceito tudo isso, mas reconheço que amanhã posso acordar diferente e não dar a mínima para isso tudo. Colocar uma música da Norah Jones para começar o dia serena. Pensar no cineminha do fim de semana. Sentir alívio por estar tudo ok com os meus pais. Alegrar-me pelo meu trabalho estar indo bem.

Eu aceito toda essa reflexão como uma auto-análise. Um recado da razão para o coração – e vice e versa. Aqui os remetentes se confundem, se completam e evoluem juntos com a mensagem e o apreço pela vida.

1 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom seu texto, agradeço a oportunidade de poder comentar anonimamente.
Uma quase balzaquiana com todos os desvaneios que a responsabilidade 30 trás...
Desabafe, é sempre bom.
Bjs.

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