quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Memórias essenciais do mundo corporativo

Minhas experiências profissionais precisam de backup e do desapego para esquecer as cicatrizes

Este texto é sobre minhas desventuras no mercado trabalho. Sinto-me na obrigação de avisar para que não perca tempo com as cicatrizes alheias e possa voltar a sentir as suas cutucarem o peito, em protesto – para que você fale, compartilhe, desabafe e deixe de andar sob a sombra das lembranças e fatos que assombram sua rotina corporativa e, talvez, sua paz interior. 

Desde que entrei no mercado de trabalho, eu sonho em ser uma grande profissional. Não sabia ao certo como faria para alcançar essa meta, além é claro, da graduação em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, de cursos de aperfeiçoamento e da prática. E sendo uma jovem da geração Y, tempo foi, e ainda é, muito importante para que essa meta fique sempre à um passo da realidade e à uma légua de distância da ambição mal planejada e, às vezes, desenfreada. 

A primeira estratégia foi viajar pelas vias do meu eu. E lá dentro do meu mundo interior, eu deveria escolher – escutar o coração e investir no talento com as palavras e a paixão pela criativa arte da publicidade ou optar pelo caminho comum e travar batalhas contra egos, algozes, donzelas e dragões alimentados por interesses e vaidades para um dia ser âncora de um telejornal do horário nobre da TV aberta. Detalhe: essa era minha visão do jornalismo há quatro anos atrás. Hoje a percepção é outra, bem mais inteligente.

Escolhi a primeira opção: as palavras e a paixão. Afinal, como diria Confúcio, que de “Confúcio” só tem o nome – “Escolha um trabalho que você ame e não terá de trabalhar um único dia de sua vida”. E acredite, isso é possível. Mesmo diante do atual contexto em que vivemos. A competitividade, o compromisso com as necessidades básicas, as grandes ofertas e o plano de carreira dos sonhos podem influenciar, não nego. Mas jamais corrompa essa escolha quando ela passa a fazer parte de você.

A segunda estratégia foi descobrir em que direção os bons ventos do mercado sopravam. E eu me surpreendi ao perceber que os ventos vinham em minha direção, trazendo, entre outras coisas, um novo desafio. Decidi aceitar. Não sou de desistir. Faço o tipo determinada, forte e convicta. Mas não por pose social. Eu sou assim: oito ou oitenta. E acredito que deste modo, eu consigo espantar a “dúvida” o “medo” e a “insegurança”.

Correr riscos é imprescindível. Não há como conquistar oportunidades e tirar lições de vida sem antes arriscar. Não é fácil. E se fosse não teria a menor graça. Por isso encarei o desafio e fiz o possível para transformar os ensinamentos que estava tirando nas aulas de jornalismo em caminhos para aplicar nas estratégias e conceitos que desenvolvia como redatora em uma das agências mais tradicionais de Uberaba.

O começo foi tênue. Estava vislumbrada com o ambiente, as possibilidades e até mesmo, com o fato de trabalhar com profissionais de alto potencial. Isso talvez tenha limitado minha visão. Não enxerguei o todo como deveria. Estava vendo somente o que queria: um conto de fadas em que eu era a Wendy – contadora de histórias, o diretor de criação – Peter Pan e a tráfego de informações – Sininho.

E como todo conto de fadas, este teve um final. Não como os famosos “felizes para sempre”. O desfecho teve um tom prático. Fui dispensada. Mas não entendia porque. Todos podiam apontar os motivos que eu não conseguia enxergar. Postura. Já não vestia mais a camisa da empresa. Talvez não combinasse mais com meu estilo ou não ficasse bem com o plano de carreira que eu tinha desenhado.

Os traços que notava em comportamento eram intolerância, insatisfação e falta de aderência. Assim como a incredulidade ao pensar que isso tenha sido o meu cartão de saída. Foi uma pena. Aprendi a ter uma postura profissional coerente e a controlar minhas emoções de maneira inteligente da pior maneira, com meus erros. Antes tivesse aprendido vendo os erros dos outros. Mas não tinha nada que se assemelhasse. Eu era inédita. Aliás minha atitude foi inédita e inconveniente. Parecia uma Che Guevara de saia pronta para estourar uma revolução com os companheiros e depor os gestores.

Fazer o quê? Ces’t la vie. Um teatro. Está aí. Teatro foi um nome que a vida não recebeu na devida acepção da palavra. Mas bem que poderia ter recebido. Já que é nela que o homem provido de fantasias, marcação de cenário, roteiro e de máscaras, apresenta cotidianamente o seu espetáculo. A preposição foi abordada por Erving Goffman no livro: ” A representação do eu na vida cotidiana”, lançado na Inglaterra, em 1959 e traduzido para português em 1985, pela editora Vozes.

Por ironia do destino, já havia lido Goffman e colado grau. Mas não teve jeito. O melhor a fazer era terminar o conto, pegar a caixinha, colocar minhas coisas, lembranças e lições não aprendidas no banco da faculdade e, hoje, sei que são tão ou mais valiosas porque sustentam os meus propósitos e valores profissionais, em busca de novos desafios.

Estas são as cicatrizes. Abro-as com a intenção de constituir o “ser errante” a servir de exemplo. Dói? Sim. Cicatrizes abertas sempre doem. Mas hoje, ao compartilhar estes aprendizados, estou costurando-as para que sumam com o tempo. Sempre somem. É a lei da vida. O tempo toma conta e com ele vem a sabedoria pelo reconhecimento dos nossos erros. Corrigir, evoluir e enfim, conquistar tudo aquilo que desejamos.

[Texto escrito em 06/2010 para Waleska Farias - Carreira e imagem: www.waleskafarias.com

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